10 abril 2007

Oficina sobre Rede Mesh - RNP e UFF




Data: 10 e 11 de abril de 2007

Local: Auditório do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) - Rio de Janeiro/RJ

A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), estará realizando uma "Oficina da Rede Um Computador por Aluno (RUCA)", onde serão apresentados os resultados dos testes de utilização da rede "mesh" realizados pela UFF e pela Universidade de São Paulo (USP).

A RNP contratou seu Grupo de Trabalho em Rede Mesh para coordenar os testes, que serão realizados por pesquisadores da UFF, UFRGS, UnB, UFPE, USP e UFAM.

Os testes realizados pretendem avaliar as características do hardware e software de redes sem fio e o protocolo de roteamento para redes em malha implementado pelo protocolo IEEE 802.11s.

09 abril 2007

Muito mais do que 100 dólares




O projeto de computação de baixo custo para escolas é bom, mas ninguém sabe o tamanho da conta

05/abril/2007

Por Ricardo Cesar

EXAME - Em junho de 2005, quando Nicholas Negroponte, co-fundador do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), apresentou a idéia de um laptop de 100 dólares para fins educacionais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, a reação foi entusiasmada. Lula determinou a criação de um grupo de trabalho que deveria estabelecer um plano de ação "dentro de 29 dias, não 30". Havia pressa, mas hoje, quase dois anos depois, muito pouco aconteceu. Os educadores e pesquisadores envolvidos na iniciativa Um Computador por Aluno, ou simplesmente UCA, como foi batizado o projeto do governo federal para distribuir equipamentos de informática em escolas públicas de todo o país, têm convicção inabalável de que o esforço vale a pena. Para eles, recursos tecnológicos corretamente empregados podem, sim, melhorar muito as aulas dos ensinos Médio e Fundamental. O problema é que, desde o encontro de Lula e Negroponte, essa parece ser a única certeza que aflorou no governo. Ninguém sabe dizer quem distribuirá as máquinas, oferecerá suporte técnico e treinará os professores. Também não foi determinado qual será o equipamento utilizado nem a quantidade a ser encomendada, muito menos quando a iniciativa vai sair do papel.

Isso tudo significa que ainda não é possível calcular quanto o projeto integral demandaria dos cofres públicos. O equipamento mais barato em análise -- o XO, da organização sem fins lucrativos One Laptop per Child (OLPC), criada por Negroponte -- sai hoje por cerca de 140 dólares. Mas encomendar 1 milhão de unidades, número que já foi ventilado em Brasília, exigiria bem mais que 140 milhões de dólares. O preço de aquisição das máquinas é apenas uma parte dos custos. É preciso fazer com que os equipamentos cheguem a seu destino, sejam instalados e conectados à internet e recebam assistência técnica. Também é de imaginar que uma porcentagem quebrará e outro tanto será furtado. Esses laptops terão de ser repostos -- mas seria uma reposição de 3% ou 30% ao ano? Não se sabe. "Estamos com muitas variáveis em aberto", diz Cezar Alvarez, assessor especial da Presidência e principal responsável pelo UCA. "Precisamos ter prudência. É um projeto que está na fronteira tecnológica e pedagógica, que nunca foi testado em lugar nenhum."

A escolha do laptop barato
Conheça as vantagens e as desvantagens dos três computadores de baixo custo em avaliação pelo governo brasileiro
CLASSMATE PC

Responsável pelo aparelho
Intel

Fabricação
Positivo e CCE (Brasil)

Prós
Com bom poder de processamento, faz quase tudo o que
um laptop simples pode fazer. As máquinas seriam montadas no Brasil

Contras
É mais caro que o XO e também menos revolucionário para uso educacional

Preço
250 dólares(1)
XO

Responsável pelo aparelho
OLPC

Fabricação
Quanta Computers (Taiwan)

Prós
É a alternativa mais barata e também a mais inovadora tanto do ponto de vista tecnológico quanto na proposta educacional

Contras
Capacidade de processamento limitada. Deve ser importado de Taiwan

Preço
140 dólares(1)
MOBILIS

Responsável pelo aparelho
Encore (Índia)

Fabricação
RFTelavo (Brasil)

Prós
Ótima mobilidade, tela sensível ao toque, bateria com autonomia de até 6 horas

Contras
Não foi desenvolvido para uso educacional. É mais caro que o XO e com recursos técnicos mais limitados que o Classmate

Preço
250 dólares(1)
(1) Valor atual, sujeito a mudanças

Apesar das incertezas, Alvarez diz que a iniciativa está entrando -- finalmente -- numa fase de menos barulho e mais definições. As avaliações técnicas que o governo encomendou estão prontas. A análise pedagógica finalmente vai deslanchar, com testes em escolas do Rio Grande do Sul, de São Paulo, de Tocantins e do Rio de Janeiro. Entre as pessoas envolvidas no projeto, circula que o escopo do UCA deve ser fechado nos próximos meses, embora essa não seja uma posição oficial. A partir daí, o governo abriria uma espécie de licitação para determinar quem fornecerá as máquinas. Há três modelos na disputa: o XO, que nasceu como o laptop de 100 dólares, concebido por Negroponte; o Classmate PC, da Intel; e o Mobilis, da indiana Encore (veja os detalhes dos modelos no quadro ao lado). Todos são oferecidos a vários países, não apenas ao Brasil. Mas em ne nhum local a idéia de distribuir computadores baratos para fins educacionais foi recebida mais calorosamente. Instituiu-se uma cooperação de alto nível entre as ONGs e multinacionais envolvidas e os técnicos do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP, do Centro de Pesquisas Renato Archer e do Certi, em Santa Catarina. Em alguns casos, os pesquisadores brasileiros são responsáveis por aprimoramentos importantes nas máquinas. Os primeiros testes em condições reais foram feitos no Brasil, em 2006, e as primeiras experiências em larga escala também ocorrerão aqui, nas próximas semanas. Além disso, fala-se numa compra de até 1 milhão de laptops -- mais do que todas as vendas de notebooks contabilizadas no ano passado inteiro no mercado nacional: 680 000 unidades. O Bradesco, banco com um dos maiores parques de computadores do país, administra cerca de 100 000 máquinas.

Quem fechar acordo com o governo brasileiro, portanto, sairá na frente para estabelecer seu equipamento como o mais indicado para fins educativos em países emergentes. O discurso oficial de todos é que quanto mais alternativas, melhor. Mas, apesar da função social, os responsáveis pelos três laptops competem ferozmente e chegam a trocar farpas. "Honestamente, estou feliz que a Intel e outras empresas finalmente estejam dando atenção à necessidade de computação de baixo custo para a educação. Isso não acontecia antes de iniciarmos a OLPC", disse a EXAME David Cavallo, diretor do grupo de pesquisas Futuro do Aprendizado, do MIT, e uma das cabeças por trás do XO. "Mas acredito que nossa máquina supera de longe a deles."

Perguntas sem respostas
Dois anos após o governo iniciar os estudos para a distribuição dos laptops, ainda há mais dúvidas do que certezas
Qual o custo total do projeto?
Laptop de 100 dólares é uma bela marca, mas o preço dos equipamentos é só a ponta do iceberg. O custo integral do projeto envolve muitos fatores, como distribuição, treinamento e assistência técnica
Como selecionar as escolas que serão beneficiadas?
A idéia é que as secretarias de Educação e as próprias escolas se cadastrem para receber as máquinas. Mas não está claro como impedir que critérios políticos definam quem receberá os equipamentos
Quem treinará os professores?
É de esperar que alguns professores não estejam familiarizados nem sequer com os recursos convencionais de informática. Ninguém sabe ao certo como será feita a capacitação dos professores
Como será a conservação das máquinas?
Não se sabe se os equipamentos serão doados aos alunos ou ficarão nas escolas. Também há dúvidas sobre as reposições — os laptops são robustos, mas estão longe de ser inquebráveis
Como garantir assistência técnica em todo o Brasil?
O governo precisa de uma rede de prestação de serviço que tenha abrangência nacional para garantir que todas as escolas envolvidas no projeto tenham suporte técnico. Quem vai fornecer esse serviço?

AS ANALISES DOS pesquisadores brasileiros mostram que cada equipamento tem seus prós e contras. O XO é o mais inovador e também o de menor custo, embora o preço unitário ainda esteja bem acima dos 100 dólares previstos originalmente. A tela aproveita a luz ambiente para poupar energia, e os equipamentos vêm com chips capazes de estabelecer uma rede local sem fio, o que permite a troca de dados com outros laptops próximos. "Sob todos os pontos de vista, o XO é uma peça de inovação -- tanto quanto um iPod, por exemplo", diz Marcelo Zuffo, pesquisador do LSI. Seu ponto fraco, contudo, é a baixa capacidade de processamento. O XO também teria de ser importado, já que a OLPC fechou acordo de fabricação com a Quanta, de Taiwan. O Classmate leva vantagem no quesito performance. Seu processador pode até rodar o pesado Windows XP, da Microsoft. A maioria de suas peças teria de ser importada, mas os computadores podem ser montados no Brasil, gerando empregos aqui. Por outro lado, o equipamento da Intel é mais caro e também mais conservador: trata-se praticamente de um laptop em miniatura com alguns programas pedagógicos, não um dispositivo inovador como o XO. O indiano Mobilis não nasceu para projetos educacionais e nem mesmo tem um design atraente para crianças. Mas pode ser adaptado para esse fim e conta com recursos interessantes, como tela sensível ao toque. Todos são pequenos, fáceis de ser transportados e robustos.

O tiro de largada dessa corrida foi dado por Negroponte em janeiro de 2005, num e-mail endereçado a Hector Ruiz, executivo-chefe da fabricante de processadores AMD. "Conte conosco", foi a resposta de Ruiz. Em poucas dias, o Google e a News Corp. também aderiram à iniciativa como membros fundadores da OLPC. No mesmo mês, Negroponte apresentou a idéia do laptop de 100 dólares no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Tudo o que ele tinha para mostrar à sua audiência era um protótipo tosco que dava uma idéia da aparência externa do dispositivo, mas que não executava função nenhuma. Mesmo assim, a repercussão foi gigantesca. Negroponte não tirou o laptop de 100 dólares da cartola. O conceito de usar computadores como instrumento pedagógico surgiu na década de 60, por meio de um grupo de pensadores liderados por Seymour Papert, também do MIT, que influenciou educadores em todos os cantos do globo. A cruzada de Negroponte é transformar aquela teoria em prática. "Ele traçou um objetivo e atropela quem for preciso para chegar lá. Negroponte é uma pessoa muito difícil -- ele é estrela, tem chilique e às vezes desconsidera os colegas de trabalho. Mas sua convicção sobre o que está fazendo é muito grande", disse um pesquisador envolvido com a OLPC.

Independentemente da escolha do governo federal, levar computadores a alunos de escolas públicas é uma tarefa meritória, mas extremamente complexa num país com as dimensões do Brasil. É preciso garantir que as escolas tenham tomadas para carregar as baterias dos laptops e que haja conexão com a internet para explorar o real potencial das máquinas. Essa não é a realidade de muitos colégios espalhados pelas periferias e áreas rurais do país. Ter uma proposta pedagógica sólida para que as máquinas de fato aprimorem as aulas é outro desafio. "Em muitos aspectos, a tecnologia é a parte mais fácil", diz Cavallo, do MIT. Para a professora Roseli de Deus Lopes, do LSI, os resultados serão heterogêneos entre as escolas que participarem do programa. "Sabemos que não vamos conseguir atingir o objetivo em todas. Mas, se atingirmos em uma parte, já terá valido a pena."

Outro risco nada desprezível é o uso político da iniciativa. Afinal, esse é um daqueles projetos que já nascem com a foto pronta -- o prefeito ou o governador entregando as máquinas para as criancinhas pobres. A princípio, as secretarias de Educação devem cadastrar as escolas interessadas, que precisarão atender a certos pré-requisitos para então receber os equipamentos. Mas haverá laptops para todos? Se esses pontos não forem equacionados, o projeto pode se tornar apenas uma peça de propaganda política e um tremendo desperdício de dinheiro público -- além de um vexame para o país, já que o mundo todo estará olhando. O lado alentador é que os pesquisadores envolvidos são apaixonados pelo projeto. Gente como Roseli Lopes, do LSI, ou a professora Léa da Cruz Fagundes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pode falar horas sobre o assunto com um brilho nos olhos que não deixa espaço para dúvidas sobre seu envolvimento. É compreensível que o governo tenha uma postura cuidadosa antes de gastar dinheiro público. Mesmo assim, se realmente apóia a idéia como faz parecer, não há mais justificativas para continuar protelando indefinidamente o projeto. Se 30 dias era muito tempo, o que dizer de dois anos?

Fonte: Portal EXAME
http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0890/tecnologia/m0125978.html
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